O medo de ficar só é um
forte estímulo, tanto para mulheres como para homens, para que desenvolvam
relacionamentos pouco estimulantes.
O resultado é de uma
pesquisa feita pela Universidade de Toronto, com uma ampla amostra de mulheres
e de homens (americanos e canadenses de várias origens étnicas e de variadas
idades), publicada no Journal of Personality and
Social Psychology.
Os pesquisadores afirmam
que, se uma pessoa está muito tempo solteira, tenderá ela naturalmente a ficar
menos crítica em relação aos seus relacionamentos, engajando-se em qualquer
tipo de relação amorosa. O curioso é que mesmo estando não satisfeitas e,
inclusive, “sabendo” que os seus pares românticos não são aquilo que esperavam,
elas ainda assim permanecem em seus relacionamentos.
De certa forma, creio
eu, o nível de ansiedade causado pela “solteirice” é tão impactante que as
pessoas preferem ficar em relacionamentos de baixa qualidade do que correrem o
risco de acabarem ficando sozinhas.
Mas
qual seria a razão para que estas pessoas aceitem qualquer coisa, você saberia
dizer?…
Eu
esclareço.
Diferença
entre apego e afeto
Temos
operando em nosso cérebro um sistema automático e muito primitivo que, desde
nossos antepassados, nos faz buscar a proteção do outro. Esse “impulso mental”
pode ser visto operando também nos animais e explica o fato de andarem em
bando, pois junto com o grupo, a alimentação, o acasalamento e a proteção se
dão de forma mais efetiva, garantindo uma maior sobrevivência.
Assim sendo, igualmente
nos humanos, quando crescemos, também buscamos instintivamente apoio e proteção
de nossos pais para que depois, com a passagem do tempo, possamos perseguir na
vida adulta uma nova figura de apego que nos proteja. No caso, os parceiros
românticos.
Desta maneira, biologicamente falando, o mecanismo de apego sempre
se manifesta antes do afeto, pois primeiro precisamos
nos sentir protegidos para depois podermos estar seguros para gostar de alguém.
Isso equivaleria dizer: a existência de uma “lei de sobrevivência” cerebral, ou
seja, a busca de apoio vem sempre antes.
Vejamos, quando o
sentimento de proteção se faz manifesto, portanto, ficamos livres para estarmos
ligados (afeiçoados) a alguém. Perceba, assim, que, sentir-seprotegido, não é a
mesma coisa do que sentir-se querido, pois são
circuitos mentais distintos que são acionados.
Entretanto,
as coisas nem sempre saem como esperado.
Nosso
cérebro sempre nos impulsiona a desenvolver relações de apego e busca de
segurança, mesmo naqueles casos onde o apego recebido não é dos mais
expressivos.
Assim,
muitas vezes, gostamos de uma pessoa, mas não nos sentimos tão protegidos por
ela. Isso explicaria, em parte, por que muitos indivíduos desenvolvem relações
paralelas (casos extraconjugais) com outras figuras. Em uma pessoa se manifesta
o apego e em outra o afeto.
As
relações mais duradouras ou, se você preferir, as mais longevas, são, na verdade,
aquelas nas quais a figura de afeto é ocupada pela mesma figura da de
apego. Isto é, equivale dizer que conseguimos gostar de alguém que também nos
traz a sensação de proteção.
Desta
forma, as relações românticas mais satisfatórias são aquelas que nos
fornecem ambas as coisas (sensação de afeto junto com a de apego) e que
são popularmente denominadas de “relações de cumplicidade”. Moral de história:
nestes casos, gostamos de alguém que também nos protege.
Ficou
mais claro agora?… Não é difícil.
Conclusão
Portanto,
a pesquisa canadense apenas demonstra que na ausência de uma boa figura de
afeto, acabemos nos contentando com uma que, pelo menos, nos forneça
sensação de proteção, ainda que fiquemos infelizes.
Isso
explica também a razão pela qual sempre temos algum conhecido que passa uma
vida inteira com alguém que não lhe traz a felicidade, ou seja, ainda que não
exista afeto evidente, possivelmente existe a percepção desta pessoa de um
sentimento de proteção.
Quem
já não ouviu falar de algum cônjuge que a confiança no parceiro “acabou”? Mas
ainda assim, lá permanece o casal, junto, por anos a fio.
Enfim,
esses são alguns dos dilemas que nossa herança antepassada nos dá para
resolver, isto é, o medo de ficar só faz com que nos contentemos com qualquer relação.
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